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A geração dos nossos pais
04:25 // 0 comentários // Manuel da Gaita // Category: //Eu acho que a geração dos nossos pais é uma das mais interessantes, um verdadeiro “case studie” para daqui a uma centena de anos, talvez.
Acompanharam a massificação da televisão a preto e branco, vibraram com os golos do Eusébio e acompanharam em directo a visita da Rainha de Inglaterra a Portugal. Muito sinceramente, podiam ter escolhido um qualquer evento mais divertido para inauguração das transmissões em directo na televisão, mas não. Preferiram a visita da rainha dos “bifes”.
Basicamente, os nossos pais, daqui a uma centena de anos, serão conhecidos pela “geração do electrodoméstico”, designação que lhes assenta que nem uma luva. Aspiradores, máquinas de lavar e secar, máquinas eléctricas para cozer e tricotar, berbequins, batedeiras, e mais uma quantidade de maquinetas de utilidade duvidosa. O meu pai até chegou a comprar uma máquina que cortava o cabelo de deixar qualquer punk nervoso, isto numa altura em o máximo de ousadia capilar era o de ter o corte à Beatle. O facto de demorarmos cerca de uma hora nessa tarefa, tempo mais que suficiente para ir ao barbeiro, cortar o cabelo e voltar de novo a casa, não era motivo para desistências. O importante era a não dependência de mão-de-obra alheia, e mesmo a “Velha do Restelo” na pessoa da minha mãe que gritava que “não saía à rua com as crianças com as crianças neste estado” era facto que demovesse a vontade e a necessidade do empirismo.
Bom. Cada electrodoméstico que entrava em casa, era recebido com pompa e circunstância, e passava a ser o centro das atenções generalizadas até à chegada de um novo electrodoméstico. Eu acho que se passava assim em todos os lares, e o facto do Sr. Silva ter comprado um secador de cabelo à mulher na semana passada, era motivo suficiente para invejas e cobiças por parte da vizinhança.
Lembro-me perfeitamente da chegada da máquina de lavar roupa a minha casa. Acho que nesse dia o meu pai até tirou férias para ficar a par do funcionamento do electrodoméstico, como se fosse ele algum dia a trabalhar com o dito. E desde logo começou a correr mal. Eu acho que na altura um electrodoméstico era mais valorizado que um filho, pois estes eram muitos e os electrodomésticos poucos mas com bastante utilidade. E muito sinceramente, não me lembro do meu pai tirar férias no dia em que chegamos a casa.
A máquina devia ter algum problema de equilíbrio ou mau calibramento porque podia dizer-se que saltava, dava pulos de três centímetros em direcção aos espectadores e só parava quando se desligava da corrente eléctrica por força da distância percorrida. Uma vez, estava eu, o meu irmão e um amigo lá em casa, quando a máquina em fúria tentou atacar a minha mãe, e nós corajosos e munidos de vassoura fomos em socorro da aflita senhora e desatamos à pancada com as vassouras contra a máquina. Vencida a batalha, nós, os três infantes, resolvemos atar a máquina de lavar a roupa com umas cordas para que ela não fugisse ou atacasse donas de casa desprevenidas.
Apesar da solução encontrada, a minha mãe passou a adoptar o seguinte processo: metia a roupa na máquina, com um cabo da vassoura ligava à distância o animal, corria para fora do compartimento onde estava o electrodoméstico e fechava a porta à chave, não fosse a máquina de lavar roupa capaz de abrir uma porta utilizando a maçaneta.
A máquina, talvez amuada, avariava com mais frequência que o desejável e o meu pai era o técnico de serviço. Eu não percebo muito acerca da mecânica das máquinas de lavar roupa, mas suponho que o meu pai também não percebia grande coisa. Apesar de tudo, um técnico de informática nos finais da década de 70, não era menino para se atemorizar com um simples electrodoméstico sem complexidade nenhuma. E a técnica era simples: desmontava a máquina e voltava a montá-la para chegar à conclusão que as peças que sobravam é que estavam a provocar a avaria. Eu acho que as máquinas de lavar roupa da actual geração já não trazem essas peças supérfluas.
Só que o processo era moroso. Não era fácil. A desmontagem da máquina era relativamente fácil, mas a montagem exigia muito tempo, até semanas e a oficina era o apartamento inteiro. As peças eram espalhadas informalmente à medida que a máquina era desmontada, o que envolvia mesa da sala de jantar, sofás, corredores e algumas divisões. Envolvia também sempre uma dúzia de insultos contra a máquina e contra os filhos que se sujavam muito e por isso provocavam o desgaste do electrodoméstico. Mais pontapé, menos pontapé, a máquina passava a funcionar apesar de manter sempre os seus instintos assassinos.
Por isso, o problema não é um esquentador custar 300,00€, o problema é que os nossos pais detestam desfazer-se dos seus electrodomésticos e arranjam mil desculpas para estarmos a tomar banho de água fria. Trocar um electrodoméstico para eles é como abandonar um filho.
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